Estreou na HBO a esperada série Watchmen. Criada por Damon Lindelof (Lost), em seu capítulo de estreia a produção apresenta um mundo ambientado 30 anos após os acontecimentos da HQ, e troca as ansiedades da Guerra Fria pelas tensões contemporâneas das relações raciais nos EUA.
Carregada de easter eggs e referências, tanto da Graphic Novel escrita por Alan Moore quanto de eventos históricos, a série é descrita por Lindelof como um “remix” da HQ original.
Assistiu ao primeiro capítulo e ficou cheio de dúvida? Confere aí uma lista de referências que fazem ligação da série Watchmen com a HQ.
Nem precisa avisar que tem spoiler, né?
A ligação entre a série Watchmen e a HQ
A Sétima Kavalaria
Na HQ de 1985, Rorschach é um fugitivo que não foi pego graças à sua máscara que muda de forma constantemente e por isso ninguém sabe sua verdadeira identidade. Isolado, ele documenta seus pensamentos sobre a sociedade em um diário e notas sobre a investigação do assassinato do “herói” O Comediante.
Com a ajuda de seus companheiros (Doutor Manhattan, Coruja e Espectral) eles descobrem que Adrian Veidt, um ex-colega conhecido como “Ozymandias” está por trás de tudo que ele investigou: o assassinato do Comediante, o atentado forjado sobre sua própria vida – acusando Roscharch – e a disseminação do câncer nas pessoas, culpando Dr. Manhattan.
Rorschach, o personagem com absolutismo moral, enviou seu diário para o jornal de direita “News Frontiersmen”.
Em Watchmen, fica em aberto se as informações foram publicadas ou não.
Na série da HBO, fica aparente que o diário veio à público e Rorschach se torna a inspiração do culto “Sétima Kavalaria”, formado por supremacistas brancos, cujo discurso promete que “em breve todas as putas e traidores da raça gritarão ‘nos salve’ e sussurraremos ‘não’”.
A frase é uma variação do que Rorschach escreve em seu diário “As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundice de todo o sexo e matanças vai espumar até a cintura e os políticos e as putas vão olhar para cima gritando: ‘Salvem-nos.’ E eu vou olhar para baixo e dizer ‘Não.'”
O grupo fascista reúne baterias de relógio que não são mais vendidas, “do tipo antigo, com lítio sintético, as que estavam deixando as pessoas doentes”. Judd pergunta brincando se eles estavam fabricando uma bomba de câncer – o que pode ser bem sério, visto as acusações sobre Manhattan graças ao plano de Veidt.
A Sétima Kavalaria leva o nome de um regimento do Exército dos EUA criado após a Guerra Civil, uma unidade que originalmente lutou nas Guerra Indígenas nos Estados Unidos e é mais lembrada por ter sido abatida em 1876 na Batalha de Little Bighorn – por isso Judd usa o código Little Bighorn para chamar Angela.
Dr. Manhattan retorna à Marte
Não se sabe exatamente quando o semideus azul retornou ao Sistema Solar, mas no episódio piloto da HBO um noticiário ao vivo flagra Dr. Manhattan de volta à Marte, destruindo seus próprios edifícios de areia.
A dúvida que fica: o que será que ele sabe sobre a Terra a ponto de retornar para casa?
A chuva de lulas
Nos quadrinhos, uma criatura gigante parecida com uma lula se materializa na cidade de Nova York e mata três milhões de pessoas. O que o mundo acredita ser um ataque de outra dimensão é na verdade um plano criado por Veidt para convencer os EUA e a União Soviética de que eles tinham um inimigo em comum para enfrentar.
As lulas são referenciadas duas vezes no episódio. Quando Angela está levando sua filha para casa, começa a chover (literalmente) bebês lulas, um evento que parece ser muito comum por ali.
Durante o interrogatório do policial chamado “Looking Glass” pergunta ao suspeito membro da Sétima Kavalaria se ele acredita que “os ataques trans dimensionais são boatos feitos pelo governo dos EUA”.
The Minutemen
Em Watchmen, haviam duas épocas distintas de vigilantes fantasiados, cada uma com sua própria equipe. Na década de 1960, os principais vigilantes de Watchmen se uniram como The Crimebusters, uma equipe inspirada na primeira geração de heróis mascarados que se uniram como The Minutemen durante a década de 1940.
Na série, um programa de TV centrado na história do The Minutemen é mencionado frequentemente ao longo do episódio.
O livro revelador Under the Hood, de Hollis T. Mason, o Coruja (membro original do primeiro grupo de Minutemen), também foi visto na mesa de Judd Crawford.
Adrian Veidt: brinks, tô vivão
Uma manchete do jornal anuncia: “Veidt oficialmente declarado morto”, enquanto um personagem sem nome revelado, interpretado por Jeremy Irons aparece em sua mansão. É óbvio que se trata de Veidt, que também deve estar por trás da chuva de bebês lulas.
Richard Nixon no Monte Rushmore
Na HQ, os vigilantes são ótimos patrimônios nacionais para o imperialismo americano: com a ajuda de Dr. Manhattan, os militares americanos venceram a Guerra no Vietnã em 1971. Em 1973, o Comediante assassinou Woodward e Bernstein, impedindo que o escândalo de Watergate fosse exposto.
Nixon decolou sua popularidade para revogar a 22º emenda e, em 1985, quando a história principal acontece, Tricky Dick está em seu quinto mandado e o Vietnã acaba de se tornar o 51º estado. Nixon continua popular, mas depois que o plano de Veidt para acabar com a Guerra Fria funciona, Robert Redford pode concorrer à presidência.
Na série, Vietnã é de fato um estado e Robert Redford é presidente desde 1992, superando o longo mandato de Nixon (uma de suas grandes realizações foi promulgar reparações de escravidão, que os racistas se referem com desdém como “Redfordations”).
Quando Looking Glass interroga um dos membros da Sétima Kavalaria, breves imagens do imperialismo americano surgem nas telas grandes, evocando uma do Monte Rushmore, com o rosto de Nixon em vez do presidente Abraham Lincoln.
A Owlship
Na HQ, a Owlship é o transporte de Coruja, uma aeronave grande e capsular com duas janelas enormes na frente da cabine de pilotagem, tal como uma coruja.
O veículo aparece como propriedade do departamento policial de Tulsa e é usado pelo chefe Judd Crowdford para abater um dos aviões da Sétima Kavalaria.
Veículos elétricos são onipresentes
Um dos principais temas da HQ é como a sociedade foi profundamente alterada pela existência de vigilantes mascarados, especialmente Dr. Manhattan, o único com superpoderes de verdade: a capacidade de manipular a matéria em nível subatômico e refazê-la em qualquer coisa que ele quiser.
Em uma cena dos quadrinhos, ambientada em 1960, Manhattan explica a Hollis Manson, um dos Minutemen originais, que os motores de combustão interna estão prestes a se tornar obsoletos. Isso porque o herói é capaz de sintetizar lítio suficiente para tornar carros elétricos uma realidade. Em 1985, carros elétricos estão por toda parte, e os veículos à gasolina são considerados moda antiga.
Na série Watchmen, todo veículo é elétrico, até a picape gigante dirigida por um membro da Sétima Kavalaria.
The Watchmaker’s Son
Na série, o possível Veidt conta para seus dois empregados que acaba de escrever uma peça intitulada “O Filho do Relojoeiro” – referência à Jon Osterman, nome real do Dr. Manhattan antes de ser transformado. Outra pista óbvia de que o personagem é, realmente, Veidt, já que ambos eram camaradas de longa data.
Tick Tock
Ao longo do primeiro capítulo, um som de “tick tock” aparece constantemente. Usado por Lindelof para aprofundar o enredo da história, o som também faz uma alusão ao Relógio do Juízo Final que prevaleceu durante a década de 1980 – usado como metáfora à ameaça da guerra nuclear entre os EUA e a União Soviética.
Como o The Button, o Relógio do Dia do Juízo Final é um elemento fundamental da narrativa de Watchmen.
A morte de Judd Crawford
Depois que Angela encontra Judd morto enforcado em uma árvore, a câmera foca no distintivo quando uma gota de sangue cai lentamente nele.
Uma cena que Lindelof usa para evocar a mais impactante de Watchmen – a morte do Comediante. O rosto sorridente amarelo com uma gota de sangue é uma das imagens mais emblemáticas da HQ.
Policiais mascarados
Três anos antes da ambientação do seriado, a Sétima Kavalaria realizou ataques simultâneos à policia em suas próprias casas. Após o ataque da “Noite Branca”, os policiais foram permitidos a usar máscaras para manter o anonimato.
Quando Panda, responsável por destravar armas dos policiais em patrulha, proclama o Artigo 4, que permitia que todos os policiais ficassem armados por 24 horas, Judd responde:
“Quis custodiet ipsos custodes?”, famosa frase traduzida como “quem vigia os vigilantes?” – um grito de guerra de cidadãos fartos de vigilantes mascarados, e agora slogan de guerra para a polícia.
E você, o que achou da série Watchmen?
[Com informações de The Wrap e Nerdist]
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