Se você fica bravo quando compra produtos xing-ling mequetrefes sem saber, aqui vai um consolo: os vikings também, e no caso deles, eram espadas falsificadas.
Entre os séculos IX e XI, se popularizou no norte da Europa um tipo de espada com marca de fábrica, que significava qualidade. São as espadas Ulfberht, que carregavam a inscrição +VLFBERHT+, um nome franco usado por um fabricante específico – o qual se tornou sinal de eficiência e qualidade.
As espadas falsificadas Ulfberht
Essas lâminas são algo entre as antigas espadas vikings e as espadas medievais Knightly, e tem um comprimento médio de 80 centímetros. Eles foram feitas usando várias peças de metais de composição diferentes, num processo vulgarmente chamado de “aço de Damasco”.
As melhores delas foram forjadas à base de aço importado da Ásia Central, e foram encontradas por todo o norte da Europa, principalmente na Noruega, e alguns exemplares na Bulgária.
Os Vikings consideravam-as objetos de grande prestígio, bem como uma arma confiável e eficaz. No entanto, estudos recentes de espécimes preservados em museus e coleções particulares revelou um fato surpreendente: Muitas das Ulfberht preservadas são falsas.
Elas são feitas de aço e até mesmo ferro de baixa qualidade com até três vezes menos teor de carbono, embora carreguem o mesmo registro, +VLFBERHT+.
Uma forma de enganar o comprador, pois naquela época, era quase impossível que os vikings observassem diferença nas armas. Isso só seria revelado, de forma fatal, quando em combate.
Se uma espada de aço puro de Damasco, por exemplo, colidisse com uma falsificada, resultaria na quebra da lâmina.
É por isso que em locais de batalhas apareceram milhares de fragmentos dessas falsificações. Ulfberhts autênticas geralmente aparecem no leito de antigos assentamentos perto de rios.
No século XI, o fornecimento de aço da Ásia Central através da Rússia foi interrompido, o que fez o número de falsificações aumentar consideravelmente.
Com informações de: Universidade de Hannover | The Guardian | Wikipedia
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Flávio, mto legal este texto e todas estas informações e imagens, parabéns! Só uma pequena crítica, se me permite… nós orientais não curtimos expressões como “xing-ling”. Elas são preconceituosas, pq espalham um nome único para todo produto/loja/vendedor asiático, sinônimo de coisa ruim, mal feita, falsificada, etc. Algo como nós, brasileiros, sermos chamados de “cucarachas” no exterior… seria possível vc modificar isto no texto, e nunca mais usar, por favor? Grato.
Oi Edu. Agradeço o comentário, porém, o termo em questão não significa preconceito de forma alguma. Na verdade ele se refere [como uma tradução] a um termo chinês, criado em 1980, o Shanzai. Palavra que indica falsificação ou cópia ilegal de produtos de grandes marcas. Não há qualquer intenção ou referência a qualquer tipo de ofensa na palavra. Em relação ao contexto da matéria, cai perfeitamente bem, pois as espadas em questão de fato eram/são xing-ling, ou Shanzai, uma vez que, apesar de não serem produzidas na China, eram feitas na Ásia. De qualquer forma, o termo foi popularizado não só para produtos da China, mas de outras regiões.
Flavio, saber da criação de expressões e termos historicamente é bacana e ajuda sempre a entender muita coisa, incluindo preconceitos e/ou preconceitos disfarçados de elogios (“dia de branco”). Mas este conhecimento não faz magicamente sumir o sentimento de humilhação que sentimos. Essa história do termo não ameniza a ofensa por parte de quem sofre, pode aliviar a consciência de quem ofende. Não desejo de forma alguma ser grosseiro, então vc me perdoe te dizer isso, mas vou dizer sem nenhuma intenção de ser agressivo: não seria vc, que não é oriental, que dirá quais termos nos ofendem. Assim é com as questões de gênero, quando, muito comumente, mulheres se dizem ofendidas com certas coisas (e alguns homens insistem que não se trata de ofensa); isso acontece tb com negros, homossexuais. Se um termo nascer aqui mesmo no Brasil falando de mulheres polonesas judias refugiadas que não tiveram outra forma para sobreviver e alimentarem seus filhos ao chegarem aqui que não a prostituição, isso no ano tal em tal lugar, sendo chamadas de “polacas”, termo que se tornou então naquele espaço comum para designar prostitutas, saber disso não aliviará a carga que descendentes de poloneses hoje sentem ao serem chamados assim, pq tem uma carga pejorativa que a sociedade como um todo colocou nesse termo ao longo de décadas. E como teu próprio texto mostra: não são chineses que inventaram a falsificação, portanto se o texto quisesse chamar a atenção justamente para isto, seria um texto que trataria de criticar o uso deste termo. Acho que vale sair da defensiva e refletir não com erudição, mas com carinho. Mais uma vez: isso não é uma batalha de conhecimento e não quero ser ofensivo contigo, me perdoe se em algum momento parecer.
Quanto à tradução… o “artigo”do wikipedia que “traduz” Shanzhai como Xing Ling, aliás, usa uma matéria da Veja (!)(2015) e outra do NYTimes (2010), onde se lê: “shanzhai, a term that translates literally into “mountain
fortress”; in contemporary usage, it connotes counterfeiting that you
should take pride in.” Não vejo Xing Ling aí. Não é tradução, isso é mentira. Xing Ling foi uma escolha de um suposto nome típico chinês (que soaria “engraçado” para brasileiros) para falar mal dos produtos de lá. Algo parecido como “trabalho de preto” é usado por brancos racistas qdo querem dizer que é algo está mal feito.
Edu, o termo xing-ling não tem nada a ver com pessoas. Se referem à produtos falsos. Aliás, nunca vi qualquer menção desta expressão para seres humanos. Não passa de uma palavra para se referir à objetos. Não tem nada demais.
Desculpe se você se ofendeu, de verdade. Mas ver isso como ofensa é infundado e sem qualquer sentido. Nem mesmo se compara com termos como “polaca”, pois esta expressão sim se refere à pessoas. Não é o caso aqui. Nem chega perto disso.
Temos que entender o sentido das palavras para poder empregá-las. E eu nunca usaria uma expressão que ofenderia as pessoas ou com cunho racista/xenofóbico. Luto bravamente contra esse tipo de comportamento.
Não estou na defensiva, e nem ataquei ninguém. Só estou dizendo que a palavra em questão de fato se refere à nada mais do que objetos. Uma expressão pra descrever produtos falsos. Um coloquialismo. Forma simples de conversa boca-a-boca transportado para o texto para tornar a informação mais próxima do leitor. Nada mais do que um recurso textual e sem qualquer intenção maldosa. 🙂