Escrito, dirigido e desenhado por David Lynch. O curta-metragem animado Fire (POZAR) finalmente foi lançado online, após 5 anos de produção.
Lynch contou com a participação do músico polonês Marek Zabrowski para compor a trilha sonora em um experimento bem-sucedido, com quem o diretor já havia trabalhado na animação I Touch a Red Button Man.
“O ponto principal do nosso experimento era que eu não diria nada sobre minhas intenções e Marek interpretaria o visual à sua maneira”, disse Lynch em entrevista. “Então eu digo que foi um grande experimento de sucesso”.
O homem descobre o fogo. Um verme sai do que parece ser o Sol. Mãos brotam de dentro do verme. O caos se inicia. Criaturas dançam em meio a ele.
A animação monocromática traz uma sequência de eventos sombrios e inquietantes. Dando a sensação de que você acabou de assistir a um vídeo proibido.
A música frenética, performada pelo grupo Penderecki String Quartet, embala o ritmo dos jogos de cenas, que em certo momento parecem estar em convulsão.
É claro que o resultado não é nada fora do esperado no imaginário lynchiano. E você pode encontrar uma conexão com outros filmes do diretor. A figura humanoide que surge na tela pode lembrar o bebê de Eraserhead, e deve ser esse o motivo pelo qual muitos fãs disseram ter um experiência muito parecida com a do longa.
Lynch orquestra o abstrato para trazer à tona a subjetividade e instigar nossa curiosidade. Precisamos saber o significado dos detalhes. Desvendar o mistério. Debater com outras pessoas os pontos de vista.
Pozar, em tcheco, polonês e sérvio significa fogo. Em russo, significa conflagração: grande incêndio; combustão vigorosa e extensa; deflagração.
Partindo dessa definição, o curta pode ser visto como uma alegoria à tragédia humana. O homem descobre o fogo e causa o pozar.
Quando a tempestade frenética é vista pelo olho, sem fisionomia concreta, me veio a questão: o verme é como um pensamento ruim que brota na mente e instala o caos? Ou o caos do mundo exterior faz brotar na mente um verme, e dançamos em sincronia pelo pandemônio?
Pode parecer viagem. Mas a mágica lynchiana é isto: tá permitido viajar na interpretação. Então, viaja comigo nos comentários aí embaixo e compartilha seu ponto de vista.
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