Avança aqui no Brasil uma onda ultranacionalista munida de discursos intolerantes contra as minorias e diversidades culturais e étnicas que são o sustentáculo do Brasil. Esse protagonismo crescente da extrema direita faz os ensinamentos do filósofo Karl Popper mais necessários do que nunca, os quais defendem porque a intolerância não deve ser tolerada.

Antes de apresentar alguns pensamentos do filósofo acerca do assunto, é necessário diferenciar liberdade de expressão e discurso de ódio.

A Constituição Federal de 1988 garante a todo brasileiro o direito de livre manifestação de pensamento e expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, desde que não fira o direito legítimo de terceiros.

O discurso de ódio, por sua vez, é um abuso do direito de liberdade de expressão, que acontece quando um indivíduo se utiliza desse direito para inferiorizar ou discriminar outra pessoa baseado em suas características, como gênero, etnia, orientação sexual, religião, posicionamento político, etc.

Geralmente essa discriminação vem acompanhada de incitação à violência contra as minorias, e consequentemente, outro fundamento principal da Constituição Federal é ferido: a dignidade humana.

A dinâmica do discurso de ódio é difusa, ou seja, quando uma pessoa é ferida, todo o grupo social do qual ela faz parte também é ferido.

Podemos e devemos nos apropriar do direito ao pensamento livre e expressar nossas ideias, assim como devemos adotar diferentes ideologias e posicionamentos políticos, mas até o ponto que isso não interfira na integridade do outro, ou o coloque em risco.

Portanto, é necessária a questão que Karl Popper levanta: não é perigoso tolerar ideias intolerantes?

Em 1945, no fim da Alemanha Nazista de Adolf Hitler, Popper publicou a obra de filosofia política “The Open Society and Its Enemies” (“A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”), na qual defende os valores da democracia e discursa sobre o que ele definiu como O Paradoxo da Tolerância.

A intolerância não deve ser tolerada

“Tolerância ilimitada culminará no desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada até para aqueles que são intolerantes […], então os tolerantes serão destruídos, e junto com eles a tolerância.”

“Nessa formulação eu não sugiro que devemos sempre suprimir os discursos de filosofias intolerantes; desde que seja possível contrariá-los através da argumentação lógica e desde que a opinião pública os mantenha quietos, suprimi-los seria imprudente.”

“Eles podem proibir seus seguidores de ouvirem argumentos racionais, e ensiná-los a responderem argumentos com seus punhos ou pistolas. Nós devemos portanto reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes.”

Você consegue identificar os discursos que a extrema direita, em escalada não apenas no Brasil, mas no mundo todo, se utiliza para proclamar a ideia de uma única língua, uma única raça, um único pensamento, uma única nação?

Nós já vimos essa história acontecer antes.

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