O único manuscrito de William Shakespeare disponível online é fruto de uma iniciativa da Biblioteca Britânica, que digitalizou o documento raro.
“Nestas páginas, talvez possamos ver o mestre dramaturgo trabalhando, refletindo, compondo e corrigindo seu texto: uma janela para a arte dramática de Shakespeare, por assim dizer”, diz a biblioteca.
O texto escrito por Shakespeare faz parte de uma peça para O Livro de Sir Thomas Morus, que data entre 1509 e 1605, criada por diversos dramaturgos, entre eles, o bardo inglês.
O manuscrito apresenta os tempos de crise de imigração na Europa, e imagina Thomas Morus – autor de Utopia e defensor da convivência pacífica entre católicos e protestantes, especialmente entre refugiados – escrevendo uma petição sobre um tratamento humanitário para os refugiados.
Se trata de uma obra retórica, cuja intenção era acender um sentimento de empatia com a situação imigratória. Pedindo aos intolerantes que fossem contra ao que ele chama de “gigante inumanidade”.
Na peça, Thomas Morus tenta convencer os ingleses a receberem os imigrantes, pedindo que os intolerantes se colocassem no lugar dos estrangeiros, imaginando uma situação inversa, onde eles próprios fossem forçados a partir para outras regiões da Europa.
“E se os vão desterrar, onde iríes? / Que país, por natureza de vossa condição errante, os daria abrigo? / Irias à França ou a Flandres? / Ou a uma província alemã, ou à Espanha ou Portugal? / Não, a nenhum país que não esteja aliado à Inglaterra / Por que tereis que se estrangeiros?”
A peça foi escrita em um período de grandes tensões. Naquela época, a Inglaterra enfrentava o dilema de como responder pelo apelo internacional de salvação dos perseguidos religiosos.
Thomas Morus dialogava com uma Londres tomada por um caos social, onde surgiam protestos nas ruas, pedindo a expulsão dos “refugiados religiosos” do país.
Evidências indicam que o manuscrito em questão foi escrito por Shakespeare. Além dele, apenas restam seis assinaturas que confirmam a caligrafia do dramaturgo.
O manuscrito foi exibido durante a exposição intitulada Shakespeare em Dez Atos, que homenageou os 400 anos de sua morte. Desde então, ele está disponível digitalmente em um acervo online do museu dedicado ao dramaturgo.
Acesse o texto neste link.
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